terça-feira, 23 de novembro de 2010

“Os signos de autoridade do Professor na sala de aula permeando a relação com o aluno”

Depois de muito tempo sem nada postar, coloco aqui mais um trabalho meu acadêmico, que quero compartilhar para que possa ajudar a outras pessoas que querem uma escola que ensine verdadeiramente, voltada para o verdadeiro bem do aluno pela formação moral e da virtude. Não chego nele a entrar na questão religiosa que é primordial, mas apenas em aspectos simples que com a mentalidade revolucionária foram tirados, para mostrar que não há mais autoridade e que todos são iguais.













Educação

            Diante do mundo moderno, a sociedade pende para a desvalorização do saber e, por conseguinte, do mestre. Por mais que os ventos dos tempos soprem sobre as salas de aula e tentem nortear a relação do professor com o aluno, apresentando as diferentes formas de educar da pedagogia moderna, nos parece imprescindível questionar o modo superficial como esse tema vem sendo tratado hoje.
            Não pretendo, em um simples texto, confrontar todos os trabalhos e opiniões sobre o tema. Meu objetivo é estender as visões existentes dentro do campo de debate, com o conhecimento adquirido durante a prática de ensino realizada em uma escola estadual da cidade de São Paulo de ensino médio.

A sala de aula enquanto espaço de ensino

            Sabemos através da Antropologia que, em todas as culturas e civilizações, o homem se comunicava por meio de signos, não necessariamente escritos. Esses sinais carregam determinadas informações, das quais, desde muito cedo, aprendemos a abstrair seus conceitos.
            Muito se discute sobre a indisciplina na sala de aula e a falta de respeito e de consideração existente ante a figura do professor. Porém, a influência dos sinais de autoridade nessa questão é pouco considerada. O seguinte exemplo demonstra claramente o que eu gostaria de chamar de fatores externos, que não são a única causa do problema, mas muito colaboram no que acontece em nível interno.
             Tenhamos em mente o seguinte: um agente de trânsito de uma grande cidade tem a tarefa de controlar o tráfego em uma via de grande movimento. Suponhamos que tal agente se apresente nessa via desprovido de todos os seus distintivos e do seu uniforme. Sem até mesmo o seu apito e o posto elevado, que o facilita ser visto pelos veículos e pedestres. Para cumprir sua missão, o agente começa a gesticular e a falar alto, tentando organizar o intenso fluxo de veículos e de pedestres. Mas, desprovido de qualquer signo de autoridade, o guarda de trânsito é apenas mais uma pessoa entre as outras que passam. Por mais que ele tente se comunicar, ele se mantém incompreendido e, muitas vezes até, nem é notado. Através dessa cena, podemos nos transportar para a sala de aula, pois em muito a atitude dos alunos se aproxima à dos motoristas da via, que passam pelo agente sem respeitar ou obedecer às suas ordens.
              O professor hoje parece que está totalmente desprovido dos seus signos de autoridade, sendo entendido como apenas mais um que gesticula e dá ordens. Poucos são os que, através de muito esforço, quando não por gritos e outras atitudes exaltadas, conseguem ter algum controle sobre a massa de alunos existente em uma sala de aula. Vendo um pouco as condições externas do meio de trabalho, em particular o espaço físico da sala de aula, que parece ter um papel tão secundário, gostaria de fazer uma análise mais aprofundada.
            Constata-se que a sala de aula hoje é um espaço muito mal planejado quando se pensa no professor. A mesa daquele que deveria ocupar o centro e ser a base de toda a aula fica em um canto, como que escondido. O professor parece acanhado em um mundo do qual somente os alunos interessados se aproximam, driblando o resto da classe que está em um mundo à parte. Também, estar no mesmo nível que os alunos, além de ser um problema de visibilidade e, até mesmo, de acústica, pois a projeção da voz daquele que fala é dificultada, é um exemplo da falta de mais um signo de autoridade. O diálogo com o aluno, erroneamente, acaba se dando ao mesmo nível, em pé de igualdade.
            Mesmo não sendo o espaço físico que define plenamente os problemas, este é mais um elemento que colabora para a situação. Esses sinais são abstraídos e entendidos, sem que haja a necessidade de maiores definições. É importante ressaltar que não me proponho a negar que deva existir um diálogo salutar entre professor e aluno. Apenas afirmo que esse diálogo jamais deverá se dar ao mesmo nível, pois o professor e mestre é o detentor do conhecimento e aquele que o deve transmitir, de forma compressível e caridosa, ao aluno.
            Mesmo parecendo um detalhe, em muito o espaço físico colabora para a indisciplina e a falta de atenção dos alunos. Estes mal conseguem ver o professor e, muitas vezes, entendem que ele não só está no mesmo nível que o seu, mas em um inferior. Não significa que essa é uma questão de querer amedrontar o aluno ou criar nele algum complexo de inferioridade e de inibição diante do professor, mas colocar os pares dentro dos devidos e merecidos lugares, para que o aluno possa exercer seu papel e o professor, o dele.
            Outro ponto é a disposição das carteiras na sala de aula. Comumente elas não estão fixadas ao chão, encontrando-se bagunçadas e desalinhadas, o que impossibilita a circulação do professor na sala ou sua percepção de qualquer ponto de desordem. Aplicando o princípio de que da ordem não se pode vir a ordem, é absolutamente impossível ter uma aula organizada e produtiva. Em um ambiente em que não se encontram bem alinhados e dispostos aqueles que vão para aprender, se a ordem fosse algo tão secundário como muitos querem afirmar, ela não seria um dos primeiros pressupostos para a identificação de uma civilização avançada.
            Deixar os alunos irresponsavelmente livres para se movimentarem e disporem da sala tal como lhes parece ser agradável, é uma liberdade com a qual a condição deles não condiz. Tal circunstância seria o mesmo que fosse normal qualquer pessoa interferir no trânsito conforme sua vontade. O professor enquanto autoridade deve ser o ordenador e mantenedor da ordem, primeiramente ao nível físico e, depois, ao nível do saber. É fato que uma aula tem muito mais aproveitamento quando os alunos estão devidamente colocados em lugares fixos e prontos para começarem a aula, pois é próprio do homem que, para ordenar seus pensamentos, lhe é necessário um espaço que favoreça isso.
        Outro ponto importante, mas que é ignorado, é a entrada do professor na sala, primeiro que ele chega como sendo dó mais um em um momento em que geralmente os alunos estão agitados,  o professor não é notado e não é destacado com dizeres de que “chega” começou a aula, não existe esse momento tão importante onde os alunos esperariam o professor como sendo também um momento de transição, do mundo da brincadeira e do recreio para o momento de estudo e da aula, a agitação continua tomando conta da sala, e o professor só é percebido por alguns no final das aulas. Por isso é um remédio estabelecer um momento de silencio que conhecida, de preferência com a entrada do professor, para que principalmente a criança ou adolescente compreenda de forma clara que a aula não é recreio. E outras relações se iniciaram naquele momento diferente das mantidas com os demais alunos e colegas.
            A sala de aula é o espaço de trabalho do professor. Ela não é a principal causa ou solução de todos os problemas, mas é sim fator importantíssimo, signo da autoridade, daquele que deverá ser obedecido e de quem vem o conhecimento a ser obtido pelos alunos que, na função de aprendizes, devem saber ter respeito e humildade. Porém, quando isso não lhes é imposto de forma simbólica, parece que há uma maior dificuldade de entendimento dessa relação. Em outros casos, as salas de aula dispostas em um estilo mais tradicional parecem ser o lugar adequado para haver um verdadeiro diálogo e aulas proveitosas para ambas as partes.
            Não é por serem tradicionais que a aula deva ser transformada em algo medonho, em que se pressupõe incapacidade por parte do aluno. Apenas, como no exemplo do agente de trânsito acima citado, o professor, desprovido desses sinais de autoridade, dificilmente vai ser entendido e precisará explicitar esses conceitos por meio de broncas, gritos e atitudes descontroladas, o que acaba tumultuando ainda mais a aula. Esse é um assunto que podemos desenvolver ainda mais, mas que aqui me limito a apontá-lo de maneira geral, para uma maior reflexão, como havia proposto inicialmente. 


O Professor enquanto autoridade

            A palavra autoridade que aqui tanto é empregada não é usada para sistematizar uma atitude de violência ou de coagir o aluno sob ameaças. Antes de tudo, a palavra autoridade tem sua origem no verbo latino augere, que significa aumentar. Ele também está na origem da palavra autor (ou aumentador), estabelecendo uma relação que deve ser pensada: a autoridade é aquela que aumenta e, sobretudo, eleva. Sim, essa é a função do professor: elevar. E quem eleva necessita sempre fazer um grande esforço, maior até do que o de quem é elevado.
            O professor enquanto educador é a autoridade, aquele que eleva. Isso se dá principalmente pelo ensino, mas também no trato com os alunos. Muitos pensam que abrindo mão de uma linguagem própria de um professor pode-se aproximar mais dos alunos. Porém, nem sempre o resultado é esse, como podemos perceber. A linguagem é mais um signo importante de autoridade, que providencia ao professor o devido estado que deve ter.
           Não quero defender que o único meio de se comunicar seja a linguagem formal e plenamente erudita, mas ressaltar que ela não pode ser completamente descartada e posta para fora. Parte-se, muitas vezes, do princípio de que o professor, para melhor ser compreendido, deva falar a mesma linguagem do aluno. Para isso, muitos, infelizmente, se rebaixam a um nível até inferior, falando “palavrões” e outras baixarias, como expressões de duplo sentido. Contrário a isso, o ambiente da sala de aula deve ser um ambiente de autoridade, de elevação, do augere. Esse é o esforço que esteve sempre presente nos grandes educadores, o de elevar o aluno ao nível da linguagem do professor, gradualmente, e dentro das limitações de cada série.
            O signo mais forte de autoridade do professor é o saber, o conhecimento que é transmitido. Na maioria dos casos, esse é um dos únicos signos de autoridade que permanece hoje em nossos mestres. A linguagem é o meio de mediação desse universo de aprendizagem. Quando o professor abre mão dela e despenca para um vocabulário esdrúxulo, ele já não cumpre com seu papel, não é autoridade e, dificilmente, vai conseguir manter a disciplina na sala de aula. O professor deve ser também referência moral, pois a linguagem dá margem para o entendimento de um código moral, de quais atos são aceitáveis naquele ambiente ou não. Desprovido desse precedente tão importante que é a linguagem, o que um professor pode transmitir aos seus alunos? Além do mais, enquanto educadores, sabemos muito bem que o caminho do saber não passa pela barbárie da grosseria e da falta de educação. Usando uma linguagem inadequada, a intermediação entre mestre e aluno se limita. Não há aquele despertar da curiosidade, tão comum na fase do aprendizado, para algo sadio e bom.
            Assim como um agente de trânsito sem seu uniforme é apenas mais um no meio de tantos carros e, literalmente, “não apita nada”, o professor, ao abrir mão de uma vestimenta digna do seu estado, é para os alunos somente mais um entre eles. Quanto mais esse signo de autoridade é transgredido, o significado de que ali está presente um superior, que deve e merece respeito, não fica explícito o quanto deveria. Portanto, o educador que se veste como um aluno de quinze anos pouco vai conseguir, pois já se apresenta como quem tem pouco a oferecer.
            Desse modo, podemos concluir que um professor que se apresente com a mesma linguagem, mesma roupa, quando não até pior, que os alunos, pouco ou quase nada poderá oferecer. Mesmo sendo um conceito feito previamente por fatores externos, não podemos deixar de considerar a importância de tais fatores. Obviamente, assim como o exemplo do guarda de trânsito, a conduta do mestre não se resume ao externo, mas esse muito tem a dizer e a impor. É bom lembrar que o foco na relação entre aluno e professor é o princípio de ordem, de respeito e de ensino na sala de aula e que uma coisa está claramente ligada à outra, de forma indissolúvel.
            O modo como os alunos se vestem, por menos importante que possa parecer, deve ter seu lugar. O uso do uniforme serve para que o aluno entenda que existem ambientes sociais que exigem determinados comportamentos, deixando clara a ligação existente entre vestimentas adequadas e modos de agir coerentes com o meio. Saber como se portar também faz parte da formação do aluno como um todo. Afinal, não apenas nas escolas o vestuário reflete o comportamento. Não se entra em um fórum ou em uma igreja indevidamente vestido, por exemplo. Além disso, o uso do uniforme é essencial para que o aluno aprenda que, mesmo existindo direitos, existem deveres. Dessa maneira, para o bem do próprio aluno, os uniformes devem ser impostos e, por mais simples que seja, devido à condição social do aluno, o traje deve ser digno e modesto.
            Outro fator que não é muito observado é a importância da pontualidade. A transgressão do horário, que muitas vezes se dá principalmente por parte do professor, parece ser vista pelo aluno como um princípio a ser seguido: se nem o professor cumpre os horários estabelecidos, os alunos cumprirão muito menos. E isso é entendido muito bem por eles, tanto nos dias em que o professor está presente na escola, como nos dias em que o mesmo está ausente.

Considerações finais

            A degradação em nossas escolas parece partir, entre outros motivos, da negligência dos referidos fatores externos. Muito se transmite por um sinal vermelho, capaz de fazer toda uma frota de carros pararem. Também muito é transmitido quando um juiz entra em um tribunal e todos se levantam. A grande questão é: por que parece acontecer o contrário em nossas escolas? Por que todos os sinais característicos da relação professor e aluno estão sendo ignorados? Será que com a inexistência desses sinais não estaríamos querendo dizer ao aluno exatamente o contrário do que se deve ensinar, negando o que deveria ser afirmado e impondo, de uma forma velada, valores negativos?
            A escola é a base da formação do caráter, porém não é isso que ocorre. É um esvaziamento do sentido de ser escola. Muitos poderiam dizer que esse ponto de vista abordado é uma forma de imposição muito rígida. Porém, me limito respondendo que os atuais hábitos de libertinagem permitidos ultimamente nas escolas, que são nocivos à formação das virtudes do aluno e colaboram para a indisciplina nas salas de aula, não deixam de ser impostos de forma autoritária.
            Muito do que foi apontado não depende somente do trabalho e da atitude do professor, mas é uma forma que se faz necessária para moldar os alunos e mostrar a eles quem é o professor e quem é o aluno. Claro que isso não deve ser feito, de forma alguma, de modo ditatorial. Mas é visível a admiração dos alunos por professores que agem de forma a explicitarem a conduta moral que os mesmo devem ter. Pois, como um remédio que nem sempre é bom, mas é preciso, tais atos, aparentemente despóticos e enfadonhos, tendem a favorecer o trabalho do professor e os beneficiados por isso´ benificiado com isso abalho do professor, e quem ncipal a s a grande questando um sinalero avisa, muito se fala por um si são os alunos.
            A comparação entre o agente de trânsito e o professor é ainda válida ao analisarmos a seguinte situação. Mesmo que o agente desprovido de qualquer signo de autoridade continuasse seu trabalho e multasse os motoristas desobedientes, nenhum deles se daria conta de que se tratava de um guarda, de uma autoridade. O mesmo ocorre com o professor desprovido dos seus signos de autoridade que, para afirmá-la perante seus alunos, grita e se exalta, praticamente implorando por atenção e não deixando claro qual é o seu papel na sala de aula. Ou seja, se transformarmos as duas atitudes em uma equação matemática, saberemos que a atitude dos alunos e a dos motoristas será conhecida, porém a do professor e a do guarda serão uma incógnita, um X que ninguém sabe o que é.
            Se quando um juiz entrar em um tribunal todos permanecerem sentados, o juiz será menos juiz, ou terá menos poder ou capacidade para julgar, ou sua sentença será menos válida? Obviamente que não! O mesmo digo de um professor, porém o fazer se respeitar é uma atitude que traz benefícios, primeiramente ao aluno, no próprio ato de respeitar os superiores e os mais velhos. Isso sem falar nos inúmeros benefícios de um professor que consegue fazer valer sua palavra para dar aula.
            Sempre lamentamos profundamente a realidade de nossas escolas. Vemos os alunos cada vez mais desinteressados e a culpa sempre sendo jogada de forma farta nas costas do professor. Este é cobrado de atender às expectativas do aluno e ser em sala de aula um multishow, como quem está ali para vender um produto, usando de todos os efeitos especiais possíveis para despertar interesse e ser quase como um ator em um espetáculo, para ver se no final o aluno demonstra ao menos um sorrisinho, mostrando que aprovou esse professor. É lastimável pensar na educação dessa forma fadada ao fracasso, como bem percebemos hoje. Achar, por exemplo, que o ensino de História tem que se dar em uma espécie de túnel do tempo em que o aluno poderá visualizar os fatos como em um filme é frustrar a vida do aluno e do professor, pois mesmo usando de toda a tecnologia possível, nunca se conseguirá despertar em cada um dos alunos o mesmo interesse, já que as personalidades de cada indivíduo são diversas. Aí entra mais uma vez os princípios, de ver a aula como um momento não de vender um produto, mas de elevar ao saber, função do autor. Para isso é necessário impor, fazer decorar, e saber como e quanto cobrar, sem por isso deixar de ser caridoso ou atencioso para com os alunos.
            Ter sempre presente que o esforço de elevar feito pela autoridade pesa e pesa mais para aquele que faz tal esforço, ou seja, para o professor. Por isso, parece muitas vezes cômodo se rebaixar ao mesmo nível dos alunos, ou até mesmo inferior,  e não ser a autoridade, porque isso não demanda muito esforço. Não obstante, na idade imatura os alunos pensam que muito sabem e parece ser um grande erro encorajar neles uma auto-suficiência acadêmica, de querer ensinar ao professor, pois isso leva a um orgulho intelectual e não ajuda a despertar e direcionar para o lado bom a curiosidade tão presente nessa época. O verdadeiro educador e mestre faz esse esforço e eleva seus alunos, os traz para o mundo do conhecimento e esse sim é seu verdadeiro amigo. Creio que esse professor será o mais bem lembrado pelos alunos quando amadurecerem e tornarem-se adultos.
            Não quero com esse simples trabalho enfrentar todas as teorias pedagógicas e demais estudos sobre o tema. Apenas quero tornar presente uma série de princípios, muitos deles materiais, que parecem ser a base quando se busca por fim a educação e a formação verdadeira do aluno, para enfrentar um vestibular e a vida. Sabemos a grande crise de autoridade que hoje existe, mas apelo para que no futuro os professores não sejam vistos como uma classe corrupta ou suja como os políticos são vistos hoje. Creio que pode ser um passo importante para pararmos e pensarmos que o problema talvez seja mais simples e pragmático de se resolver.



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